segunda-feira, 10 de abril de 2017

Cantigas de Escarnio



São as cantigas satíricas que criticam alguém indiretamente, não indicando quem é criticado. Essa ridicularização é feita através do uso de sutilezas, ironias, sarcasmos, trocadilhos, jogos semânticos e palavras ambíguas, também chamada de palavras encobertas (de duplo sentido), os trovadores chamavam esse processo de “equívoco”.

Exemplos:


Ai, dona fea! Foste-vos queixar
que vos nunca louv'en meu trobar;
mas ora quero fazer um cantar
en que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!

Ai, dona fea! Se Deus me pardon!
pois avedes [a] tan gran coraçon
que vos eu loe, en esta razon
vos quero já loar toda via;
e vedes qual será a loaçon:
dona fea, velha e sandia!

Dona fea, nunca vos eu loei
en meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já un bon cantar farei,
en que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia

João Garcia de Guilhade



Paródia ao elogio cortês das senhoras. Uma senhora reclama de nunca ter sido homenageada em nenhuma canção então o eu-lírico a coloca como sua “musa inspiradora”.


O que foi passar a serra
e non quis servir a terra
é ora, entrant'a guerra,
     que faroneja.
Pois el agora tan muito erra,
     maldito seja!

O que levou os dinheiros
e non troux'os cavaleiros,
é por non ir nos primeiros
     que faroneja.
Pois que ven cõnos prestumeiros,
     maldito seja!

O que filhou gran soldada
e nunca fez cavalgada,
é por non ir a Graada
     que faroneja.
Se é ric'homen ou ha mesnada,
     maldito seja!

O que meteu na taleiga
pouc'haver e muita meiga,
é por non entrar na Veiga
     que faroneja.
Pois chus mole é que manteiga,
     maldito seja!
Afonso X



Critica o comportamento (deslealdade, falta de honra, covardia) de nobres que não participaram da guerra da Andaluzia, mas querem as riquezas provindas dela (querendo “farejar” riquezas). Indica uma questão política da época.



- Ai fremosinha, se ben ajades,
longi de vila quen asperades?
- Vin atender meu amigo.

- Ai, fremosinha, se gradoedes,
longi de vila quen atendedes?
- Vin atender meu amigo.

- Longi de vila quen asperades?
- Direi-vo-l'eu, pois, me perguntades:
Vin atender meu amigo.

- Longi de vila quen atendedes?
- Direi-vo-l'eu, poi-lo non sabedes:
Vin atender meu amigo.


Bernal de Bonoval

Nessa cantiga o eu-lírico dialoga com uma donzela que espera seu amante longe da vila. Destaque para o local longe e isolado ilustrado por ele para o encontro dos amantes. É possível subentender diversas coisas.

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