domingo, 16 de abril de 2017

Cantiga de amor

Principais características:
  • Também conhecida como cantiga de refrão ou cantiga paralelítica
  •  O eu lírico é masculino
  •  Amor cortês
  •  Idealização da mulher
  •  Vassalagem amorosa
  •  Expressão da coita de amor
  •  Origem provençal

A cantiga de amor pode ser chamada de cantiga de refrão ou paralelítica, uma vez que a mesma ideia é repetida em cada estrofe, podendo comportar acréscimos substanciais que são irrelevantes.
O amor cortês é identificado pela idealização da mulher amada, colocando-a em uma posição superior, em um plano divino. É importante destacar que a beleza física da mulher ora é boa – associada a figura da virgem Maria – e ora é má – associada a figura da Eva.
A expressão vassalagem amorosa está intimamente relacionada com o contexto da sociedade da época que era formada por senhores feudais e nobres burgueses. A vassalagem amorosa é utilizada para explicar a condição do homem. Como a amada é hierarquicamente superior, o trovador passa a ser o vassalo da mulher amada (suserana).
Por fim, a expressão da coita de amor significa sofrimento por amor, presente em todas as cantigas de amor. A coita de amor expressa o sentimento do amor não correspondido, um amor de longe, ou seja, um amor de almas que nunca se materializa, é uma ficção. 




Nunes Fernandes Torneal

Ir-vos quererdes, mia senhor,
e fiqu` end`* eu com gran pesar,                                       * por isso
que nunca soube ren* amar                                               * outra coisa
ergo* vós, dês quando vos vi.                                            * exceto
E pois que vos ides d`aqui,
senhor fremosa, que farei?

E que farei eu, pois* non vir                                              * depois que
o vosso mui bon paracer?
Non poderei eu mais viver,
se me Deus contra vós non val*                                         * Se Deus não me ajuda em
Mais ar dizede-me voz al**:                                                                  relação a vós
senhor fremosa, que farei?                                                   ** mas dizei-me outra vez
                                                                                                               coisas diversas
E rogu` eu a Nostro Senhor
que, se vós vos fordes d`aquen,
que me dê mia morte por en*,                                               * por êsse motivo
ca muito me será mester.
E se mi-a el dar non quiser:
senhor fremosa, que farei?

Pois me assi força* voss-amor                                             * oprime
e non ouso vosco guarir*                                                      * viver convosco
dês quando me der vos partir
eu que non sei al ben querer,
querria-me de vos saber:
senhor fremosa, que farei?

Cantiga de Amor
Lourenço e Lourival

Ao receber o convite de seu casamento
Desmoronou meu castelo de sonhos ao vento
Não pude crer que de você partiu essa maldade
Será que esqueceu que quem te mas sou eu
Meu amor é verdade

Eu lhe perdou por dizer que seu pai é o ocupado
Pois ele foi sempre contra o nosso noivado
E deu sua mão para outro no gesto apressado
Para não permitir fosse ser mais feliz ao meu lado

Sem seu amor sou o homem mais pobre da terra
Sem carinho a vida se encerra
Sem seus beijos não posso viver

O seu amor nesta vida é tudo que quero
Acredite meu bem sou sincero
Sem você sou capaz de morrer

Referências:
  • <http://www.suapesquisa.com/artesliteratura/trovadorismo.htm>. Acesso em: 09 abr. 2017.
  • <http://portaldoprofessor.mec.gov.htm>. Acesso em: 09 abr. 2017.
  • <https://www.resumoescolar.com.br/literatura/amor-cortes-medieval/.htm>. Acesso em: 09 abr. 2017
  • SPINA, Segismundo. Presença da literatura portuguesa - A era medieval. 1. ed. Bertrand Brasil, 2006.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Músicas de Cantigas de Escarnio


Cantigas de Maldizer



Já essa espécie de cantiga satírica indica diretamente quem se critica. A ridicularização é através do uso de palavras de baixo calão de uso popular, também chamadas de palavras descobertas (palavrões) apresentando conteúdo erótico, vulgar, obsceno e agressivo.

Exemplos:                             



Marinha, o teu folgar
tenho eu por desacertado,
e ando maravilhado
de te não ver rebentar;
pois tapo com esta minha
boca, a tua boca, Marinha;
e com este nariz meu,
tapo eu, Marinha, o teu;
com as mãos tapo as orelhas,
os olhos e as sobrancelhas,
tapo-te ao primeiro sono;
com a minha piça o teu cono;
e como o não faz nenhum,
com os colhões te tapo o cu.
E não rebentas, Marinha?
    
Afonso Eanes de Coton



Canção dedicada à soldadeira (prostituta, bailarina ou cantora) Marinha, provavelmente a Marinha Sabugal. Apresenta conteúdo erótico com o eu-lírico descrevendo uma cena de sexo com essa Marinha, insinuando que ela transa muito.


Martim Gil, un homen vil
se quer de vós querelar:
que o mandastes atar
cruamente a un esteo,
dando-lh'açoutes ben mil;
e aquesto, Martim Gil,
parece a todos mui feo.

Non no posso end'eu partir,
pero que o ja roguei.
que se non queix'end'al Rei:


ca se sente tan maltreito
que non cuida én guarir;
e, Martim Gil, quen no vir,
parece mui laid'e feito.

Tan cruamente e tan mal
diz que foi ferido entón,
que teedes i cajón,
s'ele desto non guarece;
e aqueste feit'é tal,
Martim Gil, tan desigual,
e ja mui peior parece.

Estevan de Guarda



Dedicada ao escudeiro Martim Vil, critica suas atitudes e indica agressões físicas contra ele. 


Nostro Senhor, que ben alberguei,
quand' a Lagares cheguei, noutro dia, 
per ũa chuvha grande que fazia:
ca prougu' a Deus, e o juiz achei,
Martin Fernandiz; e disse-m' assi:
Pan e vinh' e carne venden ali
en San Paaio, contra u eu ia.

En coyta fora qual vus eu direi
se non achass' o juiz. Que faria?
ca eu nen un dinheiro non tragia;
mais prougu' a Deus que o juiz achei, 
Martin Fernandiz: saýo a min
e mostrou-m'un albergue cabo si,
en que comprei quanto mester avia.

Se eu o juiz non achasse, ben sei,
como alberguei, non albergaria,
ca eu errei, e já m' escoreçia;
mais o juiz me guariu, que achei:
pero que eu tard'i o conhoci,
conhoceu-m'el, e saýo contra mi
e omilhou-xi-mi, e mostrou-m' a via.


       Bernal de Bonoval
O eu-lírico critica Martin Fernadiz, juiz de Lagares que não o acolheu em sua casa em um dia de chuva, mas o indicou uma hospedaria próximo de sua casa.

Cantigas de Escarnio



São as cantigas satíricas que criticam alguém indiretamente, não indicando quem é criticado. Essa ridicularização é feita através do uso de sutilezas, ironias, sarcasmos, trocadilhos, jogos semânticos e palavras ambíguas, também chamada de palavras encobertas (de duplo sentido), os trovadores chamavam esse processo de “equívoco”.

Exemplos:


Ai, dona fea! Foste-vos queixar
que vos nunca louv'en meu trobar;
mas ora quero fazer um cantar
en que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!

Ai, dona fea! Se Deus me pardon!
pois avedes [a] tan gran coraçon
que vos eu loe, en esta razon
vos quero já loar toda via;
e vedes qual será a loaçon:
dona fea, velha e sandia!

Dona fea, nunca vos eu loei
en meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já un bon cantar farei,
en que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia

João Garcia de Guilhade



Paródia ao elogio cortês das senhoras. Uma senhora reclama de nunca ter sido homenageada em nenhuma canção então o eu-lírico a coloca como sua “musa inspiradora”.


O que foi passar a serra
e non quis servir a terra
é ora, entrant'a guerra,
     que faroneja.
Pois el agora tan muito erra,
     maldito seja!

O que levou os dinheiros
e non troux'os cavaleiros,
é por non ir nos primeiros
     que faroneja.
Pois que ven cõnos prestumeiros,
     maldito seja!

O que filhou gran soldada
e nunca fez cavalgada,
é por non ir a Graada
     que faroneja.
Se é ric'homen ou ha mesnada,
     maldito seja!

O que meteu na taleiga
pouc'haver e muita meiga,
é por non entrar na Veiga
     que faroneja.
Pois chus mole é que manteiga,
     maldito seja!
Afonso X



Critica o comportamento (deslealdade, falta de honra, covardia) de nobres que não participaram da guerra da Andaluzia, mas querem as riquezas provindas dela (querendo “farejar” riquezas). Indica uma questão política da época.



- Ai fremosinha, se ben ajades,
longi de vila quen asperades?
- Vin atender meu amigo.

- Ai, fremosinha, se gradoedes,
longi de vila quen atendedes?
- Vin atender meu amigo.

- Longi de vila quen asperades?
- Direi-vo-l'eu, pois, me perguntades:
Vin atender meu amigo.

- Longi de vila quen atendedes?
- Direi-vo-l'eu, poi-lo non sabedes:
Vin atender meu amigo.


Bernal de Bonoval

Nessa cantiga o eu-lírico dialoga com uma donzela que espera seu amante longe da vila. Destaque para o local longe e isolado ilustrado por ele para o encontro dos amantes. É possível subentender diversas coisas.